quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Rolezinhos

Contra fluxo, imagem revertida e subvertida das identidades de ostentação e consumo, o Rolezinho surge antes tardio que inusitado numa sociedade estratificada, hierarquizada essencialmente pelo mercado, espetáculo , consumo e capital.

Para entendermos o fenômeno precisamos nos despir de nossa identidade de mercado, imbricada em modelos de comportamento e sobrevivência , se não dissimulados, sempre isolacionistas. A questão não é abrir mão do que é privado, especial ou belo, mas do fetiche que atribuímos a elementos básicos da sobrevivência humana: Moradia, locomoção e cultura A expressão Rolezinho é originada do ato de rolar, rodar, rodar de carro, passear de carro.A transmigração do termo para um passeio ao Shopping é um reflexo da incapacidade do pedestre ser respeitado em seu direito de ir e vir, de caminhar com qualidade de vida, com higiene e estética pela sua comunidade, cidade.  Especialmente em Brasília, apesar de pararmos sempre na faixa de trânsito, o pedestre é visto como o "outro" , diferente e marginalizado, o incapaz de ter seu carro ( elemento no qual toda a cidade foi construída ). O carro é o fetiche de ser civilizado. O Rolezinho é consequência da falta de mobilidade urbana. O shopping, em contraste à rua e calçada, quando existem, é o lugar limpo, climatizado, belo e amplo, livre do caus urbano-social. O Rolezinho é a transposição desse caus para dentro do Shopping.

Na última década os Shopping Centers se expandiram exponencialmente, não apenas em número de pontos geográficos mas em estrutura e formato. Os Shoppings, hoje, recebem os principais pontos de convergência social : Cinemas, teatros, restaurantes, livrarias, casas de espetáculos, até mesmo escolas e faculdades. Esses elementos de interação social que deveriam existir não apenas na cidade, mas nos bairros e comunidades, são agora embutidos nos enclaves sociais.

A lógica de mercado exige que tudo o que puder ser consumido seja concentrado, o Rolezinho é um movimento que desconstrói essa lógica; O Shopping, antes visto como paisagem espetacular de consumo, agora representa apenas um meio-público,uma Apoteose, praça e rua  onde o foco é a expressão humana. Rolezinho é um carnaval, uma representação de nossa identidade de mercado subvertida, transgredida.

Alan Darko.