terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Culture-se não, "Arteie-se" !

Toda criança sabe como é difícil fazer Arte. Não existe nem um verbo pra isso; "Criar arte, produzir arte". Paradoxalmente, queiramos ou não, somos o único autor de nossa vida, fazemos dela  uma obra de arte sem saber. Mas quando falamos de expressar a arte, interlocutoriamente, nos deparamos com várias barreiras: Linguísticas, Estéticas,Morais e Culturais. Uma produção artística, na atualidade, não é mais livre. Antes, é vinculada aos anseios de uma sociedade de consumo em massa. Não existe mais o artístico, o que se produz deve inserir-se , necessariamente, em uma cultura, em um mercado.

Atualmente, toda manifestação artística veiculada é moldada, padronizada a uma cultura de massa.
Isso porque é mais fácil criar dentro de uma linguagem e estética já consagradas pelo público do que transgredir, transcender o que o receptor espera. Assim, surgem vários segmentos, compartimentos onde a Produção Cultural, e não mais a artística, deve ser inserida. O Produtor Cultural, antes artista, é aquele que deve conhecer o Mercado Cultural, onde vai produzir e difundir seu produto. O processo criativo, introspectivo e transcendental , dá espaço à pesquisa, estudo e análise. Os recursos utilizados pelo produtor não são mais as inspirações, desejos e emoções, mas  as releituras, cópias, programações e roupagens. A liberdade, O íntimo do artista , a casa, o lar se reverte no confinamento público . A fuga, O contra-cultural, a manifestação de resistência se rende , se dobra em saber acadêmico , em enunciado preso numa estrutura de poder.

A Democracia de se produzir o que a maioria quer é, ao mesmo tempo, Ditadura de mercado para o produtor. Não existe oportunidade para aventuras, devaneios desvinculados à produção cultural de massa. Assim, todas as rádios tocam as mesmas músicas para os mesmos ouvintes; a TV repete as fórmulas de "sucesso" em sua programação;  até mesmo a Internet, apesar da possibilidade de produção individual independente, se rende a veicular e "curtir" o que a maioria gosta. Essa dicotomia de liberdade de escolha do receptor e aprisionamento da vontade do produtor cria um círculo vicioso ao longo do tempo onde sempre se celebra o pastiche e suprime a originalidade, a surpresa, o inusitado.

A Celebração da Cultura e a Extinção da Arte é o mal-estar da nova "cool-society": O que não se enquadrar no "cool", já experimentado, saboreado, mesmo que artificialmente, não irá se difundir.
Esse fenômeno é universal, e como tal faz com que as produções se polarizem em uma língua,em uma única estética com capacidade de se difundir a todos os pontos e localidades. As diferenças locais, sociais são apenas "novas cores" a serem utilizadas em "desenhos" já definidos. É como as figurinhas de antigos jornais feitas para crianças ligarem os pontos e depois colorir. O Artista, a criança de ontem, que desenhava da forma que queria, com o material que queria e nas tonalidades que queria , hoje é apenas um produtor, ou melhor, o "reprodutor" que, tão somente, insere sua cor, já experimentada, em uma cópia da cópia de um desenho universal consagrado democraticamente pela cultura de massa.